O movimento espírita, reconhecido por sua abordagem sistemática da comunicação com o mundo espiritual e a crença na imortalidade da alma, emergiu como uma entidade distinta no século 19. No entanto, suas raízes podem ser traçadas de volta aos séculos 17 e 18, onde uma mistura de curiosidade científica, misticismo e investigações ocultistas preparou o terreno para sua formalização.
No século XVII, a Europa experimentava uma era de exploração científica e interesse pelo místico e oculto. Esta época, embora dominada por um avanço significativo na compreensão científica do mundo natural, também viu um fascínio persistente pelo espiritual e pelo desconhecido. Sociedades secretas e estudiosos dedicavam-se ao estudo de fenômenos paranormais e ao ocultismo, buscando uma compreensão mais profunda da realidade que transcendia a experiência sensorial comum.
O Iluminismo, que se espalhou pela Europa no século XVIII, colocou a razão e o pensamento científico no centro da compreensão do mundo. No entanto, em contraste com este racionalismo crescente, havia ainda um forte interesse em elementos místicos e ocultos. Franz Mesmer, por exemplo, introduziu a ideia do mesmerismo, alegando a existência de um fluido animal magnético que poderia ser manipulado para curar. Suas teorias, embora controversas, estimularam o interesse nos estados alterados de consciência e foram um precursor importante para a prática do espiritismo.
Foi no século XIX que o movimento espírita realmente tomou forma, especialmente após 1850, com a obra de Allan Kardec na França. Kardec, intrigado pelos fenômenos das mesas girantes e pela comunicação com os espíritos, empreendeu um estudo sistemático desses eventos. Ele publicou "O Livro dos Espíritos" em 1857, estabelecendo os fundamentos do Espiritismo. Esse movimento não apenas abraçou a ideia de que os espíritos dos mortos podem se comunicar com os vivos, mas também buscou uma compreensão racional e sistemática dessas interações.
Sob a influência de Kardec, o espiritismo rapidamente se espalhou pela Europa e pelas Américas, atraindo seguidores que viam nele uma conciliação entre a fé e a razão, o espiritual e o científico. O movimento cresceu em um contexto de rápidas transformações sociais e científicas, oferecendo respostas a questões espirituais e metafísicas que intrigavam a sociedade da época.
A transição do movimento espírita dos séculos 17 e 18 para o século 19 reflete um período de profunda transformação na maneira como o oculto e o espiritual eram percebidos e estudados. De uma curiosidade marginal e muitas vezes condenada, o espiritismo emergiu como um movimento estruturado que buscava harmonizar as revelações espirituais com o pensamento racional e científico. Este desenvolvimento histórico ilustra não apenas uma evolução nas crenças e práticas espirituais, mas também reflete mudanças mais amplas na cultura e na sociedade europeia ao longo desses períodos críticos.
Referências de obras Espíritas
- Resumo analítico das obras de Allan Kardec, Madras; 1ª edição (1 janeiro 2000)
- Análises Espíritas cap. 36, por Deolindo Amorim, FEB (1 janeiro 2009)
- O Pensamento de Emmanuel cap. 18 e 29, por Martins Peralva, FEB Editora; 9ª edição (1 setembro 2016)
- Espiritismo, uma Nova Era cap. Doutrina Espírita ou Espiritismo, por Richard Simonetti, FEB; 4ªª edição (8 novembro 2010)
- Grandes e Pequenos Problemas cap. 1, por Angel Aguarod, FEB Editora; 1ª edição (1 janeiro 2020)
- Elucidações Evangélicas cap. Evangelhos, FEB; 16ª edição (12 maio 2021)
- Roma e o Evangelho cap. 11, por Jose Amigo Pellicer, FEB (22 junho 2018)
- No Oásis de Ismael cap. 9, Vários Autores, FEB (1 janeiro 2019)
- O Livro dos Espíritos cap. Conclusão, Allan Kardec, IDE Editora; 183ª edição (1 fevereiro 2021)
- No Invisível cap. 16, Léon Denis, Edicel; 1ª edição (11 setembro 2017)
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